O Bitcoin e as criptomoedas realmente revolucionaram o sistema financeiro, mas muito antes deles algumas pessoas criaram sistemas alternativos, moedas muitas vezes menos tecnológicas, mas muito inovadoras e diferentes.
Talvez o Professor de La Casa de Papel tivesse menos trabalho e mais lucro criando uma moeda nova, do que imprimindo uma antiga e ultrapassada.
Vejamos alguns exemplos de moedas alternativas que nasceram antes do bitcoin e deram certo em algumas partes do mundo. Quem sabe você não fica inspirado para criar sua própria moeda?
Banco Palmas
O Banco Palmas é o que podemos chamar de banco comunitário, ele nasceu depois que o governo do Ceará expulsou uma comunidade de pescadores da orla de Fortaleza.
Sem fonte de renda e completamente abandonados pelo Estado brasileiro, a comunidade criou uma associação. Dela veio a ideia de montar um banco e uma moeda local, tal moeda ajudou na geração de renda dos moradores e incentivou novos negócios oferecendo crédito sem burocracia.
Mas é claro, o Estado brasileiro não iria deixar o monopólio da moeda cair nas mãos da população de forma tão fácil assim (veja os motivos no nosso podcast sobre a Origem do Dinheiro).
Por muitos anos a comunidade lutou para ter o direito de emitir sua própria moeda (mesmo sendo lastreada em reais) e manter seu sistema local funcionando. Após diversas disputas na justiça, finalmente em 2003 o Banco Palmas ganhou o direito de continuar funcionando.
Até hoje, é um dos maiores casos de sucesso quando falamos de bancos comunitários.
Kolion a moeda privada russa
E se sua cidade fosse apenas abastecida com reais duas vezes por ano? Esse era o caso da cidade de Kolionovo, um local frio e há algumas horas de Moscou.
A economia da pequena cidade estava sendo destruída pela falta de dinheiro, então um fazendeiro local teve uma ideia. Que tal criar uma moeda própria? Assim nasceu a Kolion.
Hoje uma Kolion vale um balde de batatas ou uma dúzia de ovos. A comunidade está prosperando e não há falta de moeda.
Claro, teve perseguição do governo russo mas a comunidade não se deu por vencida. Contamos com mais detalhes essa história no post abaixo:
A moeda de negócios Wir
A Suíça é sinônimo de estabilidade econômica, desenvolvimento e um modelo democrático. Muito desse sucesso se deve a uma moeda privada, criada por dois empresários em um momento de crise.
Os empresários Werner Zimmermann e Paul Enz, depois de receberem notas de seus respectivos bancos sobre o aumento da taxa de juros e diminuição do crédito devido à crise de 1929, notaram que eles não necessitavam dos empréstimos bancários e sim da capacidade de ter crédito dos seus fornecedores, e eles do resto da cadeia de suprimentos.
Então eles criaram um sistema de crédito mútuo, por exemplo: Um padeiro pode querer comprar ovos de um fazendeiro amigo, então o fazendeiro é debitado, com esse débito ele pode comprar uma peça de carro, o mecânico por sua vez é debitado e o processo continua por toda a cadeia de suprimentos de cada ator. Todas essas transações sem envolvimento de dinheiro ou juros.
Os bancos não gostaram da ideia e lançaram uma enorme campanha publicitária contra a WIR, eles falharam miseravelmente. Hoje são mais de 63 mil negócios usando o Wirtschaftsring-Genossenschaft (WIR), circulando mais o equivalente a ~9 bilhões de dólares em assets.
LETS – Local Exchange Trading System
O Lets nasceu na pequena cidade do Canadá, Comotz Valley, perto de Vancouver. A população de aproximadamente 50 mil pessoas passava por dificuldades, 40% da população estava desempregada.
O Banco do Canadá estava com uma taxa de juros altíssima, o dinheiro era extremamente escasso.
Entretanto, o professor Michael Linton notou que mão de obra não faltava, por que não usá-la dentro da comunidade? Foi criada uma espécie de moeda local baseada em crédito, todos os serviços prestados eram registrados, quem não tinha dinheiro poderia usar um serviço e ficar devendo (até um certo limite) para os outros membros.
Quem ficava no negativo precisava prestar algum serviço ou vender produtos dentro da comunidade. É curioso pois, nesse sistema, quem fica com saldo zerado na verdade está apenas em equilibrio.
Outro ponto da LETs é sua facilidade de implementação, basta um telefone e um livro de notas. Devido a sua simplicidade, o Lets se espalhou por vários países, África do Sul, Austrália, Alemanha e dezenas de outros.
E a inflação?
Muitos podem pensar que as novas moedas levariam a uma pressão inflacionária nas comunidades que a criaram. Essa ideia está longe da realidade, o primeiro motivo é que a moeda estatal , como bem explica Hayek em “A desestatização do dinheiro”, é um monopólio que muitas vezes não atende as necessidades dos seus usuários (não há incentivos para atender).
No caso de sistemas de crédito mútuo, como o Lets, o crédito é criado juntamente com o serviço/produto oferecido. Além disso, segundo o economista Bernard Lietaer, as moedas comunitárias e alternativas giram muito mais rápido do que o dinheiro do governo.
Hoje temos mais de 4 mil modelos alternativos funcionando pelo mundo, além das milhares de criptomoedas e plataformas de troca. A competição pela melhor “moeda” vai nos levar para um sistema financeiro mais saudável? A prática, em pequenas localidades, diz que sim. Ficou entusiasmado e quer criar sua própria moeda, deixe nos comentários sua ideia.